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Conservadorismo

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O conservadorismo é uma ideologia política que surgiu no século XVIII e valoriza a tradição, a hierarquia, a propriedade privada, mudanças graduais, a ideia de uma sociedade orgânica e a crença na imperfeição humana .

Origem do conservadorismo

O conservadorismo nasceu em grande parte como uma reação à Revolução Francesa no final do século XVIII. Essa revolução, com suas aspirações radicais de igualdade, liberdade e fraternidade, foi vista por muitos como uma quebra violenta e destrutiva das tradições e hierarquias estabelecidas.

Edmund Burke, um dos pais do conservadorismo.

Um dos mais notáveis críticos da Revolução Francesa foi o estadista e filósofo irlandês Edmund Burke. Em sua obra “Reflexões sobre a Revolução na França” (1790), ele argumentou que as mudanças sociais deveriam ser graduais e baseadas na experiência histórica, não em teorias racionalistas e idealistas, como as que inspiraram a Revolução.

Burke estava preocupado com o fato de que a rejeição violenta do passado, a crença no progresso inevitável e a confiança na razão humana poderiam levar ao caos e à tirania. 

O conservadorismo como um todo herdou de Burke uma desconfiança do racionalismo iluminista e de seu otimismo inerente em relação à capacidade humana de remodelar a sociedade com base em princípios racionais. Em vez disso, os conservadores enfatizaram a importância das tradições, dos costumes e das instituições estabelecidas, acreditando que elas representam uma sabedoria acumulada que não deve ser descartada levianamente.

Conservadorismo

Em seu sentido mais amplo, o conservadorismo é uma filosofia política que enfatiza valores e instituições tradicionais, uma em que decisões políticas baseadas em noções abstratas de idealismo são rejeitadas em favor de mudanças graduais baseadas no pragmatismo e na experiência histórica.

Ideias centrais do conservadorismo

O valor da tradição

O conservadorismo coloca grande valor na tradição e na preservação das instituições sociais existentes. Esta crença vem de vários argumentos-chave que destacam o valor intrínseco e funcional da tradição na sociedade.

Um dos argumentos centrais é o argumento religioso. Para muitos conservadores, tradições e práticas sociais não são apenas parte integrante da identidade cultural, mas também vistas como ordenações divinas. Esta crença vem da ideia de que o mundo, suas leis e estruturas foram estabelecidas por um ser supremo, e que qualquer tentativa humana de alterá-las é um desafio à vontade divina, correndo o risco de piorar as condições humanas. Embora esse argumento possa ter perdido força ao longo do tempo, ainda é defendido por grupos fundamentalistas que veem os textos religiosos como a verdade literal da vontade de Deus.

Outro argumento fundamental do valor da tradição é o que pode ser chamado de “seleção natural”, expresso de forma mais famosa por Burke. Para Burke, a sociedade é uma parceria entre os vivos, os mortos e os ainda não nascidos. As instituições e práticas sociais que perduram ao longo do tempo, portanto, refletem a sabedoria acumulada das gerações passadas e merecem ser preservadas para benefício das gerações futuras. Esse ponto de vista sugere que as tradições que sobreviveram ao longo do tempo só o fizeram porque foram eficazes e valiosas para a sociedade.

Por exemplo, conservadores no Reino Unido defendem a monarquia porque acreditam que ela simboliza a sabedoria e a experiência históricas. Eles argumentam que a monarquia proporciona um foco de lealdade e respeito nacional acima das divisões partidárias, demonstrando a sua eficácia ao longo do tempo.

Além disso, os conservadores valorizam a tradição porque ela fornece um sentido de identidade. Costumes e práticas estabelecidos são familiares e proporcionam um sentimento de segurança e pertencimento. Isso cria uma coesão social, ligando as pessoas ao passado e proporcionando um senso coletivo de identidade. Mudanças, por outro lado, são vistas como um caminho para o desconhecido, criando incerteza e insegurança.

A tradição gaúcha do Rio Grande do Sul é um exemplo dessa perspectiva conservadora sobre identidade e tradição. O orgulho e a valorização das tradições gaúchas são evidentes na cultura sulista, onde práticas como o chimarrão, o churrasco, o uso de trajes típicos e as danças tradicionais são elementos centrais da identidade regional.

Essas tradições oferecem um senso de pertencimento e continuidade, ligando a comunidade atual ao passado histórico e cultural da região. São costumes familiares que proporcionam um sentimento de segurança e unidade entre os gaúchos. Este é um exemplo do valor que os conservadores atribuem à tradição como um meio de criar coesão social e um senso coletivo de identidade.

Por outro lado, quaisquer alterações nessas práticas tradicionais, como mudanças na forma de preparar o chimarrão ou no estilo da dança tradicional, podem ser vistas com suspeita e resistência, pois representam uma incursão no desconhecido, criando potencialmente incerteza e insegurança. Mudanças radicais também poderiam ameaçar a conexão com a história e a identidade cultural da região, que são vistas como vitais para a coesão da comunidade. Assim, no conservadorismo, há um respeito e um cuidado muito grande pela tradição e uma abordagem cautelosa em relação às mudanças.

A imperfeição humana

O conservadorismo, em muitos aspectos, pode ser considerado uma “filosofia da imperfeição humana”. Diferentemente de outras ideologias que pressupõem que os seres humanos são naturalmente “bons” ou que podem ser tornados “bons” se as suas circunstâncias sociais forem melhoradas, os conservadores rejeitam essas ideias como utópicas e argumentam que os humanos são fundamentalmente imperfeitos e não podem deixar de sê-lo.

Moralmente, os conservadores tendem a ter uma visão mais pessimista da natureza humana. Essa visão é muitas vezes ligada à filosofia de Thomas Hobbes, que sustentava que os seres humanos são, por natureza, egoístas e competitivos. Segundo Hobbes, em um estado de natureza, os indivíduos estariam constantemente em guerra uns com os outros. Por essa razão, ele defendia a necessidade de um governo forte e autoritário para manter a ordem e prevenir o caos.

Este ponto de vista se reflete na crença conservadora de que o crime e o comportamento anti-social são resultado de falhas individuais, e não de falhas na sociedade ou nas circunstâncias de vida das pessoas. Portanto, os conservadores tendem a defender leis rigorosas e punições severas como meio de manter a ordem social e conter a natureza imperfeita do homem.

Essas ideias podem ser observadas em várias políticas e propostas legislativas. No Brasil, um exemplo é a redução da maioridade penal.

Frequentemente, políticos e grupos conservadores defendem a redução da maioridade penal como uma maneira de responsabilizar jovens que cometem crimes graves. Esse ponto de vista reflete a crença conservadora de que o crime e o comportamento anti-social são fruto de falhas individuais e não de problemas sistêmicos na sociedade, como a falta de acesso à educação de qualidade ou a pobreza.

Nesse contexto, a redução da maioridade penal seria uma forma de impor limites claros e punições para comportamentos criminosos, independentemente da idade do infrator. Essa proposta está alinhada com a ideia conservadora de que é necessário um forte aparato legal e punitivo para conter a natureza imperfeita do homem e manter a ordem social.

Por outro lado, essa visão é contestada por aqueles que argumentam que as soluções para a criminalidade juvenil devem focar na prevenção e na correção de falhas sociais, como a falta de oportunidades de educação e emprego. Este é um exemplo prático que ilustra como as visões conservadoras sobre a natureza humana e a ordem social se traduzem em posicionamentos políticos.

Cognitivamente, os conservadores acreditam que os poderes intelectuais da humanidade também são limitados. Eles acreditam que o mundo é simplesmente complexo demais para ser plenamente compreendido pela razão humana. Por isso, são cautelosos com ideias abstratas e sistemas de pensamento que afirmam entender o que é, na visão deles, incompreensível. Eles preferem fundamentar suas ideias na tradição, na experiência e na história, adotando uma abordagem cautelosa, moderada e acima de tudo pragmática para os problemas políticos.

Hierarquia e autoridade

Os conservadores enxergam a desigualdade como um aspecto natural e inerente à sociedade. Esta concepção baseia-se na crença de que os indivíduos nascem com diferentes talentos e habilidades, um conceito muitas vezes chamado de “aristocracia natural”. Esta ideia contrasta diretamente com a visão meritocrática liberal de que o status de um indivíduo é majoritariamente, se não completamente, resultado de seu esforço pessoal.

Na visão conservadora, a desigualdade não é apenas natural, mas também funcional, sustentando a estrutura da sociedade orgânica. Assim como em um organismo biológico, onde diferentes células têm diferentes funções, na sociedade, diferentes grupos de pessoas têm diferentes responsabilidades e papéis. Isso cria uma estrutura hierárquica na qual todos desempenham um papel vital, apesar de desigual, para o funcionamento harmonioso do todo.

Hierarquia

A hierarquia é um sistema de organização no qual indivíduos ou grupos são classificados em níveis diferentes de status, autoridade ou poder. Na hierarquia, os níveis superiores têm mais autoridade e influência do que os inferiores.

A hierarquia é visível em diferentes relações sociais e institucionais. Entre pais e filhos, professores e estudantes, trabalhadores e chefes, governo e cidadãos há uma relação hierárquica claramente definida.

Dentro dessas relações, os conservadores valorizam altamente o respeito à autoridade. Ela não é vista como uma imposição opressiva, mas como uma parte natural e necessária da ordem social. Os pais têm autoridade sobre seus filhos, os professores sobre seus alunos, os chefes sobre seus trabalhadores, e o governo sobre os cidadãos, porque esses indivíduos ou entidades possuem a experiência, o conhecimento ou a responsabilidade necessários para tomar decisões que beneficiem o todo.

Propriedade

A propriedade é importante por várias razões para o conservadorismo. Os liberais acreditam que a propriedade reflete mérito: aqueles que trabalham duro e possuem talento irão, e devem, adquirir riqueza. Portanto, a propriedade é “conquistada”. Esta doutrina atrai aqueles conservadores que veem a capacidade de acumular riqueza como um importante incentivo econômico.

No entanto, os conservadores também argumentam que a propriedade tem uma série de vantagens psicológicas e sociais. Por exemplo, ela oferece segurança. Em um mundo incerto e imprevisível, a posse de propriedade dá às pessoas um senso de confiança e garantia, algo para “contar” em tempos difíceis. A propriedade, seja a posse de uma casa ou economias no banco, proporciona aos indivíduos uma fonte de proteção.

Além disso, a posse de propriedade promove uma série de valores sociais importantes. Aqueles que possuem e desfrutam de sua propriedade são mais propensos a respeitar a propriedade dos outros. Eles também estarão cientes de que a propriedade deve ser protegida contra a desordem e a ilegalidade. Os proprietários, portanto, têm um “interesse” na sociedade; eles têm um interesse, em particular, em manter a lei e a ordem. Nesse sentido, a posse de propriedade pode promover os valores de respeito pela lei, autoridade e ordem social.

Como as ideias conservadoras se traduzem em ações políticas

Os princípios e teorias conservadoras têm se manifestado de várias maneiras em ações políticas ao longo da história e em diferentes contextos, incluindo o Brasil.

De modo geral, o conservadorismo se manifestou em resistências a mudanças rápidas ou radicais na sociedade. Na Europa do século XIX, por exemplo, as forças conservadoras eram muitas vezes representadas por monarquias e igrejas que buscavam preservar as estruturas sociais e políticas existentes frente às pressões da Revolução Industrial e das ideias iluministas.

No século XX, o conservadorismo também foi associado a movimentos que se opunham ao comunismo e outras formas de socialismo. No contexto da Guerra Fria, conservadores nos Estados Unidos e em outras partes do mundo ocidental defendiam a economia de mercado, a propriedade privada e a limitação do papel do Estado na economia como antídotos para a ideologia comunista.

No Brasil, o conservadorismo tem se manifestado de diferentes maneiras ao longo da história. Durante o Império, o Partido Conservador era uma força política que buscava preservar a ordem monárquica e manter a estabilidade do país em meio a várias mudanças, incluindo o fim da escravidão.

No período contemporâneo, a expressão do conservadorismo no Brasil pode ser vista em partidos e movimentos políticos que defendem a manutenção da família tradicional e a economia de mercado, enquanto se opõem a mudanças como legalização do aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo etc.

É importante notar que a maneira como o conservadorismo se manifesta em ações políticas pode variar muito dependendo do contexto histórico e cultural. Assim, as expressões do conservadorismo são multifacetadas e complexas, refletindo uma variedade de visões sobre a ordem, a tradição, a propriedade e a hierarquia.

  • O conservadorismo surgiu no século XVIII, principalmente como uma reação à Revolução Francesa, valorizando a tradição, a hierarquia, a propriedade privada e a ideia de uma sociedade orgânica.
  • Os conservadores enfatizam a importância das tradições, costumes e instituições estabelecidas, que eles veem como a representação de uma sabedoria acumulada e fonte de identidade e coesão social.
  • O conservadorismo vê os humanos como fundamentalmente imperfeitos, tanto moral quanto intelectualmente, e por isso advoga por leis rigorosas e punições severas para manter a ordem social.
  • Os conservadores enxergam a desigualdade como um aspecto natural e inerente à sociedade, vendo a hierarquia e a autoridade como partes necessárias da ordem social.
  • Para os conservadores, a propriedade tem um significado profundo, visto como um incentivo econômico, uma fonte de segurança, e um meio de promover valores sociais como o respeito pela lei e pela ordem social.